The Closer, quando os garotos estavam chateados comigo, devo dizer a vocês, foi um dia e tanto. A molecada estava gritando, e lembro-me de lhes perguntar: ‘OK, o que vocês acham que fiz?ʼ E formou-se uma fila. Falaram de tudo sobre gênero e isto e aquilo; mas não falaram nada sobre arte. E essa é a minha maior reclamação com toda essa controvérsia em torno de The Closer. Não se pode falar sobre o trabalho de um artista removendo as nuances artísticas de suas palavras. É como ler um jornal que diz: ʻHomem baleado no rosto por coelho de 1,82 cm está se recuperandoʼ; e pensarem: ʻMeu Deus!ʼ – sem se darem conta de que se trata de um episódio do Pernalonga.” f1u5q

Ou seja, não se trata de ter o direito de fazer piadas ofensivas, mas do direito de tão somente fazer piadas; não se trata de usar o sofrimento alheio para fazer outros rirem, trata-se de usar o sofrimento alheio para ajudar a todos – inclusive aqueles aos quais as piadas se referem – a encararem e enfrentarem o sofrimento com humor. Não se trata de incitar a violência ou promover discriminação, mas de evitar que, uma vez tolhida a liberdade de uns por algo que outros subjetivamente desaprovam, a sua própria liberdade não seja posteriormente tolhida por motivos que objetivamente não existem .

Teremos sempre de lidar com malucos, com racistas, com homofóbicos, com machistas e todo tipo de calhorda que a vida produz. Mas só teremos condições de fazer isso corretamente se soubermos discerni-los no meio da multidão, e não condenando a todos a fim de criar um mundo de seres assépticos e acéfalos, cujas sensações são as únicas coisas que lhes restam. Que Deus nos proteja – e vida longa a Dave Chappelle!