O presidente Jair Bolsonaro tem mais um motivo para se entusiasmar com o nióbio do Brasil – há muito desse minério no subsolo da Amazônia, além da gigantesca jazida já em exploração em Araxá (MG). Mas a exploração do minério utilizado em superligas enfrenta dois obstáculos na Floresta Amazônica: as reservas estão em áreas indígenas ou de preservação ambiental. Bolsonaro terá que enfrentar o mundo para autorizar essa exploração.

A maior reserva está no Morro dos Seis Lagos, em São Gabriel da Cachoeira (AM). São estimadas 2,9 bilhões de toneladas do minério e 80 milhões de toneladas de nióbio puro, como demonstram estudos da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (RM), empresa pública do Ministério das Minas e Energia que tem alvará de pesquisa na área desde os anos 1980. A reserva medida de óxido de nióbio é de 1 milhão de toneladas.

Mas não é apenas isso. Além de nióbio, foram identificadas jazidas de “terras raras”, por exemplo, avaliadas em 250 milhões de toneladas. Esse mineral produz metais maleáveis e, como o próprio nome diz, são raros de se encontrar. Segundo a RM, as características desse depósito mineral indicam que, se vier a se tornar uma mina, será possível extrair diferentes commodities importantes para a indústria moderna, com destaque ao escândio e ao gálio. O escândio tem aplicação nas indústrias aeroespacial e aeronáutica devido ao seu ponto de fusão muito superior ao do alumínio. O gálio é utilizado em diodos de laser, por exemplo.

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Superposição de reservas e áreas protegidas

A própria RM informa que o Serviço Geológico do Brasil realizou na Amazônia, nas décadas de 1970 e 1980, diversos estudos de mapeamento geológico e de recursos minerais em áreas que posteriormente foram demarcadas como terras indígenas. Como por exemplo, Seis Lagos, que apresenta superposição com a Terra Indígena Balaio e a Unidade de Proteção Integral Reserva Biológica de Seis Lagos, que tem como objetivo preservar a natureza, sendo itido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais. A legislação atual não permite a implantação de qualquer empreendimento de mineração no local. Para isso, a lei teria de ser mudada.

De julho a agosto deste ano, a Agência Nacional de Mineração (ANM) indeferiu requerimento de pesquisa de nióbio no Amazonas e em Roraima apresentados por sete empresas, em área de 55 mil hectares. Em 2 de agosto, por exemplo, foi indeferido requerimento de pesquisa da Cooperativa de Produção dos Índios do Alto Rio Negro (Cooperíndio) que havia sido apresentado em 1997. A ANM foi questionada sobre o motivo do indeferimento, mas não respondeu até a publicação da reportagem.

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Pesquisa feita pelo blog nos registros da Agência de Mineração mostra que estão ativos 28 requerimentos e autorizações de pesquisa de nióbio em áreas indígenas, num total de 260 mil hectares – ou 2,6 mil quilômetros quadrados. A maior área é da Mineração Comboinhas, com 50 mil hectares, em São Félix do Xingu (PA) – (veja lista completa abaixo).

Reportagem publicada no blog em maio de 2017 mostrou que as áreas reservadas por mineradoras para pesquisa e lavra em terras indígenas e no seu entorno somavam 37 milhões de hectares, ou 370 mil quilômetros quadrados – o equivalente ao território do estado do Mato Grosso do Sul e próximo ao de países como o Paraguai. Isso também representa 32% do total das terras indígenas do país. As empresas aguardam a regulamentação pelo Congresso Nacional da mineração em áreas ocupadas por índios para iniciar a pesquisa e a lavra em grande escala.

Licitações de direitos minerários

A RM foi criada em 1969 como empresa de capital misto para prospectar e transferir à iniciativa privada depósitos e jazidas minerais. Destes projetos realizados até o primeiro quarto da década de 1990, restaram ainda mais de 300 títulos minerários, em diversas fases, mas principalmente com relatório final de pesquisa aprovado.

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Estes títulos são agrupados em 30 projetos, ou blocos. Estes projetos estão gradativamente sendo reavaliados e submetidos a valoração e validação dos dados por consultoria Independente. Atualmente a RM tem cinco projetos qualificados no Programa de Parceria de Investimento (PPI) do governo federal para futura cessão dos direitos minerários ao setor privado por meio de licitação.

A maior mina do mundo

A maior reserva de nióbio em território brasileiro fica no município de Araxá (MG), distante 600 quilômetros de Brasília. Identificada em 1953, a jazida é de propriedade da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig) e é explorada pela Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), controlada pelo Grupo Moreira Sales. A CBMM dispõe, desde 1965, do maior complexo minero-industrial de nióbio em todo o mundo. O nióbio produzido em Araxá responde por 75% de toda a produção mundial. Sua produção anual é de 70 mil toneladas da liga de ferronióbio. O nióbio de Araxá tem reserva para ser explorado por mais de 400 anos, segundo informa a Codemig.

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Para que serve o nióbio

A aplicação mais importante do nióbio é como elemento de liga, para conferir melhoria de propriedades em produtos de aço, especialmente nos aços de alta resistência e baixa liga, usados na fabricação de automóveis e de tubulações para transmissão de gás sob alta pressão, placas grossas em plataformas marítimas, pontes, viadutos e edifícios. É utilizado, ainda, em superligas que operam a altas temperaturas, como também em turbinas de aeronaves a jato.

Segundo a CBMM, o óxido de nióbio aumenta o índice de refração das lentes, o que melhora a sua precisão, deixando-as mais finas e leves do que as lentes comuns. O óxido de nióbio é empregado na fabricação de vidros e de cerâmicas especiais utilizadas em receptores de televisão e outros equipamentos. Também é utilizado na produção de catalisadores químicos. Com propriedades de supercondutividade, o nióbio metálico é utilizado nos equipamentos de geração de imagens para diagnósticos médicos, como os aparelhos de ressonância magnética, bem como aceleradores de partículas de alta energia.

Requerimentos e autorizações de pesquisa de nióbio

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