Marsiglia toma a conversa gravada no Planalto como se fosse uma reunião de diletantes da ruptura. Não estamos, por óbvio, a falar de meros militantes, mas da cúpula do Poder Executivo, incluindo o próprio presidente da República. E não se pode isolar esse ato de outros que foram praticados de forma conexa antes e depois. Havia um claro iter criminis com encadeamento de ações tendo um mesmo propósito. A apreensão de uma minuta golpista tanto na casa do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres (que participou do encontro), quanto uma cópia dela na sede do Partido Liberal vai muito além da mera discussão hipotética. Assim como as reuniões com quadros das Forças Armadas. 5y485o

O bolsonarismo monopolizou o antagonismo ao PT, tornando-o ideologicamente dependente do ex-presidente e refém de sua agenda disruptiva. Para construir uma alternativa viável, é preciso um movimento político interno de emancipação, com a condenação inequívoca dos atos atentatórios à democracia, incluindo os acampamentos ilegais, a violência do 8 de janeiro e a tentativa de deslegitimação do processo eleitoral. E isso não significa aderir ao governo Lula ou ao pensamento de esquerda. Para tanto, é preciso de alguma coragem, o que certamente falta a quem prefere apenas moldar o espólio radical do ex-presidente para se banquetear eleitoralmente com migalhas.

No Brasil, as rupturas sempre se seguem de acomodações e anistias. Não mais. A resposta das instituições democráticas contra um grupo de sabotadores da democracia é inédita em nossa história. É por isso que não se deve confundi-la com perseguição à oposição. Até porque também não se pode confundir oposição com golpismo.