Evo conseguiu tal façanha não só pelo grande apoio que tem no eleitorado, mas também com uma série de jogadas políticas. Em 2009 seus apoiadores aprovaram uma mudança constitucional, a qual estabeleceu a possibilidade de reeleição presidencial para dois mandatos consecutivos de cinco anos cada. Com isso ele disputou e venceu com folga as eleições de 2009 e 2014.

Pela mudança estabelecida na Constituição, com dois mandatos completos o atual mandatário não poderia concorrer agora em 2019. Mas com a economia do país em crescimento e a popularidade em alta, os partidários de Evo aprovaram a convocação de um referendo para modificar novamente a Constituição. Assim ele poderia concorrer a um quarto mandato. A proposta, no entanto, foi rejeitada por uma maioria apertada dos eleitores.

Quando tudo parecia decidido, o Tribunal Constitucional do país decidiu em novembro de 2017 suspender os artigos da Constituição que vetavam a candidatura de Evo em 2019 por entender que a norma feria os direitos políticos do presidente. Para completar, em dezembro de 2018, o Tribunal Eleitoral – o mesmo que reconheceu o resultado do referendo – itiu que Evo pode concorrer.

Se novas decisões não surgirem até outubro, o Movimento ao Socialismo (MAS) – partido do presidente – tentará manter a hegemonia que já dura 14 anos na política boliviana. Mas o triunfo de Evo não deve ser tranquilo como das eleições anteriores.

Uma pesquisa encomendada pelo jornal do país, o La Razón, no mês ado, apontou o Carlos Mesa como o melhor colocado entre os oposicionistas. Mas Mesa, integrante do Movimento Revolucionário de Esquerda e que governou o país antes da ascensão de Evo, está dez pontos porcentuais atrás do presidente. Evo tem 38% das intenções de voto, Mesa 28% e o empresário conservador Oscar Ortiz, 8%. Levantamento do instituto Ipsos, de abril, também coloca o presidente na frente, com 33%, seguido por Mesa (25%) e Ortiz (7%).

Pela legislação eleitoral da Bolívia, se nenhum dos candidatos conseguir mais de 50% dos votos ou não houver uma diferença de mais de dez pontos porcentuais entre o primeiro e o segundo colocados, a decisão se dará em segundo turno. E é aí que podem vir os problemas para Evo. A maioria das pesquisas mostra que o presidente perderia para Mesa.

A aposta, tanto de governistas quanto da oposição, será na conquista dos votos dos indecisos. Algumas pesquisas mostram que mais de 20% do eleitorado ainda não decidiu em quem votar para o cargo máximo da nação.

Também estão na disputa Virginio Lema, do Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), Félix Patzi, do Movimento Terceiro Sistema (MTS) e Ruth Nina, do Partido Ação Nacional Boliviana (PAN-BOL).  O ex-presidente Jaime Paz, do Partido Democrata Cristão (PDC), desistiu no último dia 14 de junho de concorrer.

‘Milagre econômico boliviano’ sustenta liderança do presidente

A longevidade de Evo Morales no poder pode ser explicada por uma série de fatores. De família pobre, ele enfrentou dificuldades para estudar, trabalhou como pedreiro, vendedor de pão e agricultor, condição que o identifica com a maioria da população. O fato de ser o primeiro indígena a chegar à presidência da Bolívia, num país em que 62% das pessoas são indígenas, também o coloca em situação confortável. Mas os próprios líderes de seu partido, o Movimento ao Socialismo (MAS), item que todas essas características não seriam suficientes para o sucesso político do presidente não fosse o avanço econômico e social que o país registrou nos últimos anos.

Desde quando Evo assumiu o governo, em janeiro de 2006, a Bolívia vem crescendo a uma taxa média próxima de 5% ao ano. É o maior crescimento entre todos os países da América do Sul, superando Paraguai, Chile e Uruguai, países que também tiveram bom desempenho na economia. A renda per capita dos bolivianos subiu de pouco mais de 1,1 mil dólares, em 2006, para 3,6 mil dólares em 2018.

No ano ado, a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) boliviano foi de 4,7%. Para este ano, enquanto a última previsão da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) é de crescimento de apenas 1,3% para a região, no caso específico da Bolívia a estimativa é de 4,3%.

O crescimento foi impulsionado pelas exportações de produtos primários – principalmente de gás natural e minerais (zinco, lítio) –, a destinação de parte dos recursos para políticas sociais e investimentos públicos em infraestrutura. Também foram fortalecidas as políticas de industrialização e feitos investimentos na agricultura e na pecuária, com destaque para o aumento na produção de soja.

Logo depois de assumir o governo, Evo Morales decretou a nacionalização dos hidrocarbonetos (como gás e petróleo) e iniciou um processo de renegociação de contratos com empresas estrangeiras que operavam no país. A maior parte das multinacionais am novos contratos com a estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos a aram a pagar uma taxa sobre o valor da produção, o que permitiu elevar rapidamente a arrecadação do governo.

A Bolívia continua sendo um dos países mais pobres da América do Sul – 36,7% da população estava no nível de pobreza moderada em 2017 –, mas o crescimento econômico dos últimos anos possibilitou avanços em diversas áreas.

De acordo com dados do Ministério de Economia e Finanças Públicas boliviano, a taxa de desemprego no país foi reduzida para 4,3% em 2018, e a inflação ficou em 1,5%. A pobreza extrema, que atingia quatro em cada dez bolivianos em 2005, caiu para 15,2%.

Na área de educação, uma iniciativa tornou-se referência para países pobres. O programa Yo Sí Puedo (Eu sim posso) foi implantado em 2007 para ensinar a população urbana e rural a ler e escrever. Os primeiros resultados foram colhidos logo de início e agora em 2018 a taxa de analfabetismo caiu de mais de 15% para 2,9%, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).

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