Na época, João Pedro Stédile, um dos principais líderes do MST, comemorou a operação chamando-a de “revolução”. “Daqui em diante, quando vocês forem comprar arroz orgânico, carnes de qualidade, entre outros produtos, você saberá que ajudou a produzir”, disse em entrevista aos órgãos de comunicação do MST. Ele foi ainda mais longe ao defender a estratégia, argumentando tratar-se de uma mera etapa para a conquista do sonho esquerdista de fim do capitalismo. “Nós queremos criar mecanismos de um mundo novo e derrotar o sistema financeiro, não alimentá-lo”, justificou. 1f3i3v

Agora, focando nos pequenos investidores, o MST pode atingir diretamente seus simpatizantes, que, comprando títulos a partir de R$ 100, poderão se ver como financiadores da “revolução”.

Mas se na propaganda se exalta a questão ideológica como um motivo para adquirir os CRAs, a realidade é outra. A adesão ao mercado financeiro muda o perfil histórico dos assentamentos do MST – ao menos aqueles bem-sucedidos: locais que deixam a economia solidária e de subsistência para se tornarem cooperativas de produção alinhadas às demandas do mercado. Com uma diferença: o lucro se alcança por meio de terras ocupadas. No discurso, o MST pode até ser comunista, pero no mucho na prática. Assim como qualquer outro agente do agronegócio, tão demonizado pelos esquerdistas, os assentamentos fundados pelo MST usam o capital e suas táticas para sobreviver e prosperar.

A opção pela agricultura agroecológica, por exemplo, se mostra muito bem pensada para atender o consumo cada vez maior de alimentos orgânicos, livres de agrotóxicos e químicos. Hoje, o MST é o maior produtor de arroz orgânico da América Latina, alimento que, além de abastecer o mercado nacional, também é exportado para países da União Europeia, Américas e Oceania. Trata-se um mercado que ainda tem muito a crescer. Segundo estimativas da consultoria BCC Research , o mercado global de alimentos e bebidas orgânicos deve aumentar pelo menos 11,5% até 2024, chegando a valer 211,3 bilhões de dólares.

Segundo dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), até 2017, o Brasil contava com 972.289 famílias em 9.374 assentamentos, num área total de 87.978.041 hectares destinados a reforma agrária. Levando-se em conta a informação disponibilizada pelo próprio MST de que 350 mil integrantes do movimento já deixaram de ser sem-terra, os assentamentos ligados ao movimento podem ter cerca de 31 milhões de hectares de área total.

Para conseguir essas terras, uma das estratégias mais conhecidas para adotada pelo MST é a invasão de terras e fazendas, supostamente improdutivas. Segundo informação da Secretaria de Comunicação do Governo Federal, a Câmara de Conciliação do Incra registrou de 1995 a 2021, 5.447 casos de invasões a áreas agrícolas, a maioria liderada pelo MST.