Agora, Trump está mirando uma das indústrias mais importantes do Brasil, em um momento em que o desemprego está acima de 10% e a economia está paralisada.

"Não houve grandes concessões dos Estados Unidos e nem gestos significativos de apoio a Bolsonaro", disse Mauricio Santoro, cientista político da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. "Trump nem sequer defendeu o presidente brasileiro quando foi criticado em manifestações em Nova York". "A política externa 'América First' de Bolsonaro", disse ele, até agora produziu apenas uma "falta de resultados".

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China estende a mão nos momentos difíceis

Trump previu em março que ele e Bolsonaro teriam uma "fantástica relação de trabalho". Bolsonaro chamou Trump de "um exemplo para mim" e disse que eles trabalhariam juntos "para o benefício de nossas duas nações".

Agora, o possível colapso do que antes parecia uma união promissora entre as duas maiores economias das Américas abriu as portas para a China acelerar sua investida na América Latina.

Antes e no começo do governo, Bolsonaro frequentemente criticava a proximidade do Brasil com a China. Como candidato, ele viajou para Taiwan e anunciou que iria encerrar uma política externa que ele ridicularizava como inaceitavelmente "amigável com os regimes comunistas".

Mas tem sido a China – e não os Estados Unidos – que vem em seu auxílio repetidamente quando ele precisa de ajuda.

Neste verão, quando a floresta amazônica ardeu e os países começaram a ameaçar proibir as exportações brasileiras de carne bovina – sua produção acelerou o desmatamento –, a China anunciou que compraria mais. Então, no mês ado, em um gigantesco leilão de petróleo, as autoridades brasileiras elogiaram o histórico, a China ajudou a evitar outro constrangimento: todos os licitantes internacionais ficaram de fora – exceto os chineses.

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Ruptura com Trump era previsível

"No momento, os chineses estão vencendo esse ime geopolítico que está ocorrendo entre Washington e Pequim na América Latina", disse Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas, em São Paulo.

Ele disse que a ruptura do relacionamento entre os governos brasileiro e norte-americano é, de certa forma, previsível. Os interesses políticos de Trump estão em conflito com as ambições econômicas do Brasil. A economia brasileira é baseada na produção e venda de commodities – os mesmos produtos fornecidos pela base política de Trump nas comunidades manufatureiras e agrícolas.

"Tudo o que resta são palavras e promessas, mas, estruturalmente, esse relacionamento mais próximo não produz benefícios mútuos", disse Stuenkel. "Como conseqüência, é bastante óbvio que, tendo começado com grandes expectativas, isso acabaria de alguma forma frustrado".

O momento atual e o tuíte de Trump podem ser mais prejudiciais ao relacionamento do que desprezos do ado por Washington. Trump atacou – na frente de 67 milhões de seguidores no Twitter – um aliado político que investiu capital político significativo na tentativa de conquistá-lo.

"O tweet de Trump foi definitivamente humilhante para Bolsonaro", disse Guilherme Casarões, cientista político da Fundação Getulio Vargas. "Diferentemente dos momentos anteriores em que os EUA esnobaram o Brasil, Bolsonaro e seus assessores mais próximos não podem culpar a oposição por distorcer fatos ou manipular a verdade."

Isso pode aumentar a probabilidade de Bolsonaro ir contra os desejos de Washington. O governo Trump tentou desviar o Brasil do conglomerado chinês de telecomunicações Huawei em sua tentativa de trazer uma rede móvel 5G para o Brasil. Mas Bolsonaro está se reunindo com autoridades da Huawei e parece pronto para avançar com a empresa chinesa – apesar dos protestos de Washington de que é um véu para a vigilância chinesa.

"Ao contrário de Trump, o [presidente chinês] Xi Jinping vê o Brasil como um importante aliado chinês na América Latina e como um parceiro estratégico na guerra comercial com Washington", disse Casarões. "Parece provável que o Brasil favorecerá a China na disputa".

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