Enquanto na Câmara as traições ficaram às escuras, no Senado o partido acabou expondo suas divergências. Com a maior bancada da Casa, 15 senadores, o partido sonhava em voltar a comandar o Congresso depois que Davi Alcolumbre (DEM-AP) foi impedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) de tentar a reeleição.

Ainda na pré-campanha, quatro nomes da sigla tentavam sair como candidato na disputa. Entre eles, dois líderes do governo: Eduardo Gomes (Congresso) e Fernando Bezerra (Senado). Entretanto, os dois acabaram preteridos pelo Palácio do Planalto, que optou por apoiar o candidato de Alcolumbre — Rodrigo Pacheco (DEM-MG).

Sem o aval do governo, os dois líderes perderam fôlego para Simone Tebet (MDB-MS), que tinha a simpatia de outros partidos da Casa. Entretanto, a senadora terminou abandonada pelos próprios emedebistas às vésperas da eleição. Sem apoio, obteve apenas 21 votos.

“No Senado o MDB abriu a cortina da traição. Acredito que eles estão perdidos e o partido como um todo não sabe o que fazer. Falta liderança e organização”, itiu um senador de outra legenda.

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Bolsonaro vai se abrigar em partido existente

Sem partido desde 2019, quando deixou o PSL após brigas com a Executiva Nacional, Jair Bolsonaro itiu que irá se filiar a um partido já existente ainda nesse primeiro trimestre de 2021. Na terça-feira (2), o chefe do Executivo itiu que “dificilmente” irá conseguir fundar o Aliança Pelo Brasil.

Enquanto as três maiores siglas da centro-direita vive um cenário de divisão, os aliados do presidente são cortejados por outros partidos de direita. Presidente do PTB, Roberto Jefferson, já declarou diversas vezes que poderia abrigar o presidente e seus parlamentares aliados em uma eventual filiação para 2022.

Aliada de Bolsonaro, a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) afirmou que irá seguir o presidente seja qual for o partido. Ela afirma que, “se pudesse”, o PTB seria o escolhido. Dos mais 50 deputados do PSL, ao menos 30 deverão seguir o mesmo caminho de Zambelli em busca de uma nova agremiação. Entretanto, a janela partidária – período para troca de partidos pelos parlamentares – só será aberta seis meses antes das eleições de 2022.

Já o deputado Bibo Nunes (PSL-RS) afirma que trabalha para que a sigla escolhida seja o Patriota. “Pretendo trocar de partido e vou acompanhar o presidente, e eu acredito que o melhor partido para ele é o Patriota. Já falei para ele e estou trabalhando para isso”, ite.

Correndo por fora, mas sem muita simpatia dos deputados bolsonaristas, o PP também está na mesa como opção para Bolsonaro. A sigla, que é liderada por Arthur Lira e construiu a base do governo com Centrão na Câmara em 2019, foi uma das que mais elegeu prefeitos em 2020, principalmente na região Nordeste.

Segundo aliados do governo, o grande número de prefeituras comandadas pelo PP poderia garantir palanque para Bolsonaro em grande parte do país. “O presidente Ciro (Nogueira) fez um convite para Bolsonaro. A gente já disse para ele que o bom filho à casa torna, e o PP teria estrutura para o projeto de reeleição”, ite um integrante da bancada do PP na Câmara.

Frente contra Bolsonaro para 2022 será reavaliada

Além de eleger seu sucessor, Rodrigo Maia apostava que iria construir uma candidatura unindo centro, centro-direita e centro-esquerda para enfrentar Bolsonaro em 2022. O ex-presidente da Câmara já tinha sinalizações de João Doria, do ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) e sondou o apresentador de TV Luciano Huck. Esse grupo acredita que uma polarização entre Bolsonaro e o PT favorece a reeleição do presidente.

Diante da derrota nas eleições do Legislativo, Roberto Freire, presidente do Cidadania e um dos articuladores da frente, afirma que o projeto será repensado. “Essas graves dissidências no centro e as profundas divergências nos partidos complicam um pouco o que vínhamos tendo de ideia para 2022”, ite.

Para Freire, o processo de impeachment não será uma única opção contra Bolsonaro e o grupo terá tempo de se recompor. “Não podemos só pensar em impeachment, precisamos pensar em alternativas para trabalhar com elas. Ficou evidente que essas articulações sofreram processos de erosão, mas que podem ser reconstruídas até 2022”, completa.