De acordo com as supostas conversas publicadas neste domingo, Moro teria dito em 5 de agosto de 2017: “Talvez seja o caso de tornar pública a delação da Odebrecht sobre propinas na Venezuela”. Em seguida, teria questionado: “Isso está aqui ou na PGR [Procuradoria-Geral da República]?”. 55bb
Em 2016, em sua colaboração com a Lava Jato, a Odebrecht reconheceu ter pago propina para fazer negócios no Brasil e em mais 11 países, entre eles a Venezuela. Tais informações, no entanto, foram mantidas sob sigilo por determinação do Supremo Tribunal Federal. O acordo da empreiteira, fechado com autoridades brasileiras, da Suíça e dos Estados Unidos, estabelecia que as informações só poderiam ser compartilhadas com outros países caso estes garantissem não tomar qualquer medida contra a companhia e os delatores.
Com base nos supostos diálogos a que tiveram o, entregues pelo que denominam de “fonte anônima”, “Folha” e Intercept afirmam que, após a suposta sugestão de Moro, o chefe da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, teria concordado com a ideia, observado que “há umas limitações do acordo” e afirmado então que poderia ser o caso de mover ação no Brasil por crime de lavagem de dinheiro internacional.
“Haverá críticas e um preço, mas vale pagar para expor e contribuir com os venezuelanos”, teria afirmado Deltan, ao que Moro teria respondido: “Tinha pensado inicialmente em tornar público. Acusação daí vcs tem que estudar viabilidade”. O procurador, então, teria respondido: “Não dá para tornar público simplesmente porque violaria acordo, mas dá pra enviar informação espontânea e isso torna provável que em algum lugar no caminho alguém possa tornar público. Paralelamente, vamos avaliar se cabe acusação”.
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Na sequência, “Folha” e Intercept relatam uma série de supostas conversas entre procuradores para debater como expor as informações sigilosas. Em dado momento, eles teriam cogitado a oportunidade de cooperar com colegas venezuelanos a partir de visita ao Brasil da procuradora venezuelana Luisa Ortega Diaz, no fim de agosto de 2017, depois de ser destituída do cargo de procuradora-geral da Venezuela e se refugiar na Colômbia dizendo-se perseguida pelo regime do ditador Nicolás Maduro.
Em outubro daquele ano, semanas após a visita de dois procuradores venezuelanos ao Brasil – que também teria motivado debates no grupo de procuradores no Telegram –, Ortega publicou em seu site dois vídeos com trechos de depoimentos de um executivo da Odebrecht na Venezuela.
Segundo as reportagens deste domingo, advogados da empreiteira questionaram a força-tarefa sobre o vazamento e depois pediram abertura de investigação ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, que pediu esclarecimentos ao Ministério Público. Inquérito sigiloso sobre o caso corre na Justiça Federal de Brasília.
Em entrevista ao Correio Braziliense, o ministro Sergio Moro disse que não pretende deixar o cargo por causa das supostas mensagens reveladas com procuradores da Lava Jato.
"Não vai ser por causa de falsos escândalos que vou desistir dessa missão", disse, referindo-se à consolidação dos avanços no combate à corrupção e ao crime organizado. Moro se refere à publicação das mensagens como "revanchismo" e afirmou que o suposto hacker que as obteve tem interesse principal de impedir novas investigações e anular condenações.