Setor produtivo: acordo deve ir para a gaveta k2s3x

O setor produtivo brasileiro analisa que o acordo deve seguir, mais uma vez, para a gaveta e se mostra reticente com as incertezas em torno do acordo. Para o coordenador do ramo Agropecuário da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), João Preito, o agro brasileiro tem reconhecimento internacional de qualidade produtiva e de sanidade. O Brasil exporta para mais de 190 países e o foco precisa estar na abertura de novos mercados.

“Mercosul e União Europeia não é um assunto fácil e rápido de se resolver. Vimos as grandes manifestações do setor produtivo europeu. São fatores que dificultam um acordo desta robustez e tamanho. O movimento dos produtores na União Europeia pressiona o Parlamento para que isso não caminhe. Acreditamos que o Parlamento vai reavaliar muita coisa na pauta agro e certamente o acordo estará nestas reavaliações. Não é algo rápido, nem para 2024. Não arrisco dizer que o acordo morre, mas está em standby”, avalia.

O presidente do Fórum Nacional de Sanidade Animal, Otamir Martins, analisa que o movimento de produtores europeus trouxe instabilidade para a discussão comercial e que não há caminho favorável para negociações no momento. “Há uma série de processos e movimentos que interferem, mas do ponto de vista de qualidade, de sanidade, estamos preparados para atender qualquer país, qualquer exigência e qualquer mercado. Temos muitos países para abrir negociações e se não for para toda a União Europeia, precisamos fechar acordos com outros países”, defende.

O presidente do Conselho dos Secretários Estaduais de Agricultura e secretário de Estado da Agricultura e Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara é ainda mais crítico.

Nunca acreditei que esse acordo União Europeia e Mercosul fosse vingar e está aí o azedume dos agricultores ses, portugueses e alemães. Eu tenho visto muitos países, inclusive do Mercosul, fazendo acordos vantajosos bilaterais [entre países e não com blocos econômicos]. O Uruguai vende carne para o Japão, mesmo vacinando contra a aftosa e não paga nenhuma taxa. Nós pagamos 25%. Então é preciso ter outra visão, se não dá pelo conjunto, vamos comendo pelas beiradas, fazendo acordos de interesse para a nossa agricultura”, considera.

Como exemplo, o secretário de Agricultura cita parcerias próximas de serem firmadas pelo Brasil com o Chile, novas habilitações de plantas industrias para exportação à China, abertura de mercados com Japão, Coreia do Sul e México e o recém-finalizado acordo com o Canadá. “Temos produto com qualidade e capacidade para expandir produção e mercados, precisamos ar esses mercados e acredito muito mais nas negociações bilaterais”, pondera.

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Ipea diz que acordo com UE faria PIB brasileiro avançar 0,46% 602kp

Um estudo publicado em fevereiro pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indica que o acordo com a UE traria importantes benefícios ao Brasil.

Entre eles, o aumento de 0,46% do Produto Interno Bruto (PIB). “Entre 2024 e 2040, o acordo provocaria um crescimento de 0,46% no PIB brasileiro – o equivalente a US$ 9,3 bilhões a preços constantes de 2023 –, em relação ao cenário de referência. O estudo mostra também que, em termos relativos, o país obteria ganhos maiores que os da União Europeia (aumento de 0,06% no PIB) e dos demais países do Mercosul (alta de 0,20%)”, avalia a apuração.

Os autores do levantamento consideraram como referência os dados e projeções do PIB feitas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para os anos de 2014 a 2026. Até 2040, as taxas de crescimento do último ano foram replicadas.

O acordo aumentaria os investimentos no Brasil em 1,49%, na comparação com o cenário sem a parceria. Na balança comercial, o país teria, segundo o levantamento do Ipea, um ganho de US$ 302,6 milhões, ante US$ 169,2 milhões nos demais países do Mercosul e queda de US$ 3,44 bilhões na União Europeia (UE), com as reduções tarifárias e concessões de cotas de exportação previstas.

“O benefício que o Brasil teria com o acordo é maior que o dos parceiros do Mercosul porque a economia brasileira é mais diversificada e teria ganhos mais extensos em termos setoriais”, explica Fernando Ribeiro, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea, um dos autores do estudo, ao lado de ir Junior e Weslem Faria.

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