“A situação é bem crítica. Essa é a palavra”, diz Seluchi. “O último verão foi desastroso e o mês de abril foi péssimo”, complementa, se referindo à quantidade de chuvas. Além dos três estados do Sul, o cenário é complicado em um pedaço de São Paulo e no Mato Grosso do Sul. O Rio Grande do Sul está em situação mais drástica, porque choveu ainda menos por lá nos últimos meses, mas no Paraná a situação se prolonga há mais tempo, portanto, a perda de recursos hídricos que não foram sendo repostos é maior por aqui. c5hu
Para além das estações meteorológicas e das réguas de rios, o índice integrado de seca também usa dados de satélite para considerar as condições da vegetação. Em território gaúcho, por exemplo, o indicador aponta várias localidades em seca excepcional, o mais alto possível. Já no Paraná há localidades com seca severa e extrema – e a maior parte está em estágio moderado. O meteorologista salienta que chuvas esparsas podem levar à seca verde, como a registrada em 2012, quando a vegetação até reagiu, mas as plantas não receberam os recursos necessários e a produção agrícola foi baixa.
Para Seluchi, as condições tão diferentes dificultam qualquer comparação entre a crise hídrica de São Paulo em 2015 e o atual momento do Paraná. Primeiro, porque a divisão entre estação chuvosa e seca é mais marcada em território paulista. Por lá, quando ficou 45 dias com o pluviômetro no zero, em plena estação de chuvas, já foi um problema irrecuperável. “Ainda que mais concentradas em um período do que em outro, o Paraná tem frentes frias quase o ano todo, o que é uma vantagem”, comenta. Apenas o Norte paranaense se assemelha mais ao clima paulista.
A superintendente adjunta de Operações e Eventos Críticos da Agência Nacional de Águas (ANA), Ana Paula Fioreze, também acrescenta que as condições estruturais em São Paulo eram muito distintas: uma população bem mais numerosa, que dependia majoritariamente de um sistema (o Cantareira), com captação muito distante da capital. Curitiba e região metropolitana são abastecidas por uma rede de rios e reservatórios, relativamente próximos e que estão em condições diferentes, com a possibilidade de se complementarem, sem a dependência paulista.
“Quanto pior for a seca, mais difícil vai ser a população não sentir nada, mas essa percepção depende de vários fatores”, comenta. O nível de consumo, o calor e as medidas emergenciais adotadas interferem nos efeitos. “A seca é um fenômeno cujos efeitos vão se acumulando”, complementa, destacando que quanto mais prolongada for, mas difícil de não ter consequências.