Apesar da disponibilidade maior de recursos para emprestar, no entanto, o que se está observando é uma enorme resistência por parte das instituições. Vários empresários relataram que as taxas de juros aumentaram – chegando a dobrar, dependendo do tipo de operação – e os prazos para o pagamento de novos empréstimos foram reduzidos, um movimento que foi confirmado pelo próprio presidente do BC, Roberto Campos Neto, no dia 26 de março.

Há uma explicação bastante racional para que isso ocorra: os bancos pretendem minimizar riscos como o da inadimplência – o mesmo fator que explica o elevado spread bancário nacional mesmo em circunstâncias mais normais. Especialmente nestes momentos, em que a incerteza sobre o futuro da empresa que busca um empréstimo é quase total, os bancos não querem estar em uma situação na qual tenham de lidar com uma série de devedores falidos, com todas as dificuldades que isso implica para conseguir reaver os valores emprestados. Mas também é preciso perguntar se esse excesso de cautela na concessão de crédito não acabará justamente acelerando o processo de deterioração econômica, o que até mesmo aumentaria os índices de inadimplência, pelo caráter sistêmico da própria economia – afinal, se não houver uma aposta firme na retomada, as condições para um efeito dominó estarão postas, atingindo também aquelas empresas que em tese estão em posição mais sólida.

Por mais que muitas instituições e empresas, inclusive os bancos, tenham elogiáveis políticas de responsabilidade social, com inúmeros projetos e institutos, o fato é que sua grande contribuição à sociedade está em realizar bem aquela função que é sua razão de existir. Quando produtores e comerciantes mantêm a coragem de seguir operando e se esforçam ao máximo para impedir o desabastecimento de itens básicos de alimentação e higiene – e inclusive há relatos de redes de varejo que estão abrindo vagas neste momento difícil –, dão uma contribuição extraordinária para mitigar os efeitos econômicos da pandemia. O mesmo vale para os bancos, que servirão melhor à sociedade à medida que facilitam o o ao crédito, com um olhar especial à situação econômica caótica em que o Brasil já está entrando.

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O meio para que isso ocorra, preferencialmente, não é uma imposição estatal que force os bancos privados a praticar taxas de juros baixas ou prazos alongados para os novos empréstimos. Não descartamos que a autoridade monetária, se identificar uma falha de mercado na qual os benefícios das medidas tomadas não estejam chegando ao consumidor final, possa intervir, como aliás fez recentemente em relação aos juros do cheque especial. Mas o desejável seria a ação voluntária por parte das instituições financeiras, um setor que vem colecionando lucros suficientes para, neste momento de catástrofe nacional, ser capaz de assumir riscos adicionais em nome do reerguimento econômico do Brasil. O governo colocou os bancos estatais na vanguarda de um movimento de facilitação do crédito, mas apenas eles não serão suficientes para fornecer todo o crédito de que as empresas e as pessoas necessitarão. Pelo papel de liderança que exercem, é preciso que as instituições privadas assumam esse protagonismo e também estejam dispostas a colaborar; se o fizerem, terão o potencial de elevar a confiança da sociedade na sua capacidade de superar os efeitos que a pandemia tem sobre a atividade econômica.

Quando o coronavírus tiver ado e o Brasil começar a retomar a normalidade, os brasileiros certamente se lembrarão de quem esteve ao lado dos empreendedores e dos trabalhadores necessitados na hora mais difícil: as famílias que continuaram pagando diaristas, jardineiros e outros prestadores de serviço enquanto todos permaneciam em casa, as empresas que fizeram das tripas coração para não demitir, as companhias que colocaram suas linhas de montagem à disposição do esforço para reforçar hospitais. Que triste será se essa recuperação não ocorrer, ou for retardada, porque faltou a colaboração de um setor essencial para proporcionar saúde financeira a empresas e indivíduos.

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