De acordo com as informações do Ministério da Economia, foi o primeiro semestre que freou o PIB, com episódios como a tragédia de Brumadinho e os reflexos do aprofundamento da crise argentina. Já o segundo semestre, com crescimento anualizado de 2,3%, foi o melhor desde 2013, antes que a herança maldita do lulopetismo ficasse escancarada por meio da pior recessão da história do país. A geração de empregos no segundo semestre também engatou cinco meses consecutivos de saldo positivo, com a exceção de dezembro, que tradicionalmente registra mais demissões que contratações.
O governo também alegou que os dados do PIB pelo lado da demanda mostram que o crescimento foi puxado pelo setor privado, e não pelos gastos públicos. As despesas do governo caíram 0,4% em 2019, enquanto o consumo das famílias aumentou 1,8% e a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), termo que designa os investimentos produtivos, subiu 2,2%. Esse protagonismo maior do setor privado é bem-vindo, repetindo uma tendência que já vinha de anos anteriores, mas também há motivos de preocupação quanto aos investimentos, pois a FBCF do quarto trimestre do ano ado foi 3,3% menor que entre julho e setembro. Além disso, o dado consolidado de 2019, apesar de positivo, foi inferior ao de 2018, quando a FBCF cresceu 3,9%.
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Por isso, mesmo o otimismo exige certa cautela. A intenção de investimentos para 2020 continua alta, segundo as pesquisas da Confederação Nacional da Indústria, mas para que ela se concretize ainda há reformas a fazer no sentido de trazer mais segurança jurídica. A reforma tributária, por exemplo, trará uma simplificação há muito tempo necessária, mas cada setor será impactado de forma diferente – dependendo da proposta aprovada, alguns deles arão a pagar mais impostos, alegam grupos de empresários. O governo precisa demonstrar maior assertividade, deixando claras quais as suas ideias para a reforma tributária e a istrativa, e o Congresso precisa mostrar que realmente está disposto a levar adiante a pauta reformista sem usá-la como pretexto para arrancar concessões do Planalto.
Antes da virada do ano, falava-se em crescimento de até 2,5% em 2020, mas a epidemia de coronavírus tirou a validade de qualquer prognóstico, pois, com o avanço da doença ainda em curso, não é possível estimar com precisão o tamanho do estrago que o Covid-19 fará na economia global. Independentemente disso, cabe a governo e Congresso trabalharem focados nos meios de promover o ajuste dos gastos públicos, a geração de emprego e renda, a retomada dos investimentos e a consolidação de um ambiente de liberdade econômica. Se o desempenho de 2019 ficou abaixo do desejado, isso ocorreu apesar da pauta liberalizante e reformista, e não por causa dela; é preciso manter o curso e resistir à tentação de estímulos heterodoxos que estiveram na raiz da enorme crise que levou à nossa segunda “década perdida” em 40 anos.