Em vez de um debate honesto sobre como aperfeiçoar o modelo atual, temos, de um lado, uma corte eleitoral que demonstra horror à discussão, limitando-se a afirmar a segurança do sistema usado hoje; e, de outro lado, um presidente que se empenha em semear a desconfiança do eleitor – e a retórica vem funcionando, pois, em recente pesquisa CNT/MDA, 18,9% dos entrevistados disseram não confiar na urna eletrônica, e outros 15,8% disseram ter “confiança baixa”. E a baixa confiança da população nos instrumentos democráticos deixa a porta aberta para aventuras autoritárias e soluções de força que deveriam permanecer no ado. 3g7341
Executivo e Judiciário, cada um a seu modo, cada um com intensidade diferente, seguem esticando a corda, mas não há dúvidas de que a responsabilidade maior cabe ao presidente da República, que acusa sem provar, demonstra pouca disposição em seguir as regras eleitorais caso elas não lhe agradem e já ite explicitamente a possibilidade de agir ao arrepio da Constituição. Nenhuma ruptura institucional se dá subitamente: elas sempre são precedidas por uma escalada de hostilidades e provocações, em muito semelhantes às escaramuças destes dias entre Bolsonaro, Barroso e Moraes. Ainda há tempo de evitar o ponto a partir do qual não há mais retorno, mas parece haver poucos bombeiros em Brasília neste momento. Nada de bom pode vir dessa disputa na qual, vença quem vencer, os perdedores serão a democracia e a sociedade brasileira.