No pós-crise, o governo deve implementar rapidamente um plano de recuperação econômica, incluindo a recomposição de serviços públicos, a retomada de investimentos, o início de novas obras e a proteção social compensatória às camadas mais pobres que tiveram perda de renda nos dias da crise. O plano deve ser implementado mesmo que o Tesouro Nacional tenha de tomar empréstimos ou emitir dinheiro, como meio de promover a volta da normalidade. Essas medidas, é claro, não esgotam todo o conjunto de ações exigidas, mas são importantes.
É preciso olhar para o modo como os Estados Unidos e países europeus estão tentando manter empresas em pé e salvar a renda da população; as medidas para empresas incluem, por exemplo, empréstimos a juros baixos, com benefícios para as companhias que não demitirem; para os trabalhadores, governos estão reforçando o seguro-desemprego, promovendo remessa direta de dinheiro ou cobrindo até 90% dos salários anteriores daqueles que foram demitidos, como na Dinamarca – o Reino Unido adotou o mesmo procedimento, bancando 80% da remuneração de funcionários que correm risco de demissão. Todas essas possibilidades precisam estar na mesa e ser avaliadas, mesmo que depois sejam descartadas por serem impraticáveis na realidade brasileira.
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Para tanto, o plano de recuperação tem de ser concebido e elaborado agora, pronto para começar a qualquer momento e com a maior rapidez possível, ainda que se use o dispositivo simplificador dos processos burocráticos permitidos pela lei de calamidade. A equipe econômica comandada por Paulo Guedes, infelizmente, perdeu quase uma semana – tempo valiosíssimo dada a velocidade com que a pandemia avança – após o fiasco da MP 927, que permitiria suspender contratos de trabalho zerando salários e foi substituída por outro texto após a (justificada) repercussão negativa. Entre o pacote inicial de R$ 150 bilhões e o anúncio de sexta-feira, foram mais de dez dias de dúvida para empresários e trabalhadores.
Por fim, a sociedade deve estar ciente do que está sendo proposto, pois só assim pode dar seu apoio para que os danos sejam minorados – e, aqui, não se trata de apoiar o governo, mas de apoiar o Brasil. Hoje, os brasileiros estão sendo informados diariamente sobre o avanço da Covid-19, mas não sabem ao certo quando poderão voltar ao trabalho – isso para aqueles que ainda tiverem um emprego ou uma empresa –, e como ocorrerá esse retorno. Neste meio tempo, é obrigatório que o governo trabalhe intensamente buscando meios de preservar os postos de trabalho e os negócios, e que a população saiba quais são as providências emergenciais que estão sendo tomadas. Saber, por exemplo, que será possível conseguir dinheiro para pagar os empregados, ou que pagamentos de prestações, impostos ou dívidas poderão ser prorrogados, permitindo que mais recursos sejam usados para necessidades urgentes, ajudará a amenizar a angústia de todos os que estão em casa, isolados, convivendo já com a ansiedade causada pela pandemia propriamente dita.