Procurada pela reportagem para opinar sobre o caso, a arquiteta e especialista em patrimônio cultural Giceli Portela, que também é proprietária de uma casa de Vilanova Artigas em Curitiba e fundadora da especialização internacional em patrimônio e restauro da UTFPR, afirma que acha OSGÊMEOS maravilhosos como artistas. Mas pondera: "Se fosse outro artista que aplicasse uma obra sobre a obra, todo mundo iria se ofender. A gente sempre respeita o autor original, nesse caso o Oscar Niemeyer. Mas como eles são notórios, as pessoas comemoraram. Mas não acho que a notoriedade dê esse direito. No entanto, segundo a teoria do restauro, toda intervenção é bem-vinda, pode ser alegre e festiva, desde que reversível e removível", sentencia Giceli.
Por meio de nota, a pedido de HAUS, o MON garante que a obra em questão será removida após a exposição. "Como forma de divulgar a mostra 'OSGEMEOS: Segredos', realizada em parceria entre o Museu Oscar Niemeyer com a Pinacoteca do Estado de São Paulo, que ocorrerá no principal espaço do museu (olho e dois andares de sua torre), os artistas realizaram uma intervenção artística de caráter reversível e temporário na fachada do edifício, onde costumam ser fixados banners com a programação da entidade desde sua fundação", avisa a instituição de cultura.
Registro de OSGÊMEOS grafitando a empena do MON.
Um especialista em patrimônio do governo federal ouvido pela reportagem em condição de anonimato defende que tivesse sido usada alguma superfície removível para respeitar a obra maior, que é o museu.
Já para a respeitada arquiteta Elisabete França, curitibana radicada em São Paulo que já foi diretora de Planejamento e Projetos da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU) e que hoje leciona no curso de Arquitetura e Urbanismo da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), no curso de especialização em Planejamento e Gestão de Cidades do núcleo de estudos USP Cidades e no curso de especialização em Habitação e Cidade da Escola da Cidade, as obras arquitetônicas não são intocáveis. "Eu gostei do grafite. Se eles tivessem mudado a obra, com alguma intervenção física, seria outra história. Mas ela é ageira, apenas para marcar a exposição. É simpática", opina. "É uma manifestação artística super usual."
MON recebe exposição da dupla OSGÊMEOS em setembro.
Em entrevista exclusiva para HAUS, a diretora do MON, Juliana Vosnika, esclarece que a obra não afeta a volumetria do edifício, não utiliza parafusos ou outros materiais que possam afetar a estrutura ou as características do projeto arquitetônico de Niemeyer. E lembra que a intervenção teve parecer favorável da Coordenadoria do Patrimônio Cultural da Secretaria da Comunicação Social e da Cultura do Paraná, que istra o patrimônio tombado no Estado do Paraná.
"É importante ressaltar que instituições do mundo inteiro fazem ações semelhantes para promoção dos espaços culturais e de novas mostras para o público que circula no entorno dos museus. Entre outras, OSGÊMEOS já fizeram intervenção temporária na Tate Modern de Londres e na fachada do Museu de Arte Moderna de São Paulo, que permanece até hoje dentro do Parque do Ibirapuera, também projetado por Oscar Niemeyer", destaca Juliana.
"Como instituição viva e atuante nas áreas de arquitetura, design e artes visuais, o Museu Oscar Niemeyer pretende justamente manter a presença perante o público e honrar o legado do grande artista que lhe empresta seu nome, privilegiando o diálogo entre as mais diversas manifestações artísticas contemporâneas", argumenta. "O museu é vivo, atuante, e honra o legado do Niemeyer", finaliza.
No domingo, dia 29, após a publicação desta matéria, a Fundação Oscar Niemeyer, que responde oficialmente pelo legado do arquiteto brasileiro, publicou em suas redes sociais uma série de fotos do grafite de OSGÊMEOS, parabenizando a equipe do MON pela iniciativa.