“Uma família rica que possa pagar o custo de uma universidade federal, que não é mais do que 10% dos alunos, não ia querer pagar porque hoje uma universidade pública federal ela tem um custo mais ou menos o dobro ou três vezes mais do que uma escola do mesmo gabarito da iniciativa privada. Não vejo por que as famílias iriam pagar”, explicou.

Segundo Weintraub, o custo de um aluno, na média, dentro de uma universidade federal, corresponde atualmente a R$ 35 mil por ano e deve chegar a R$ 40 mil por ano em 2020.

As universidades públicas são caras, entre outros motivos, segundo o ministro, porque a evasão é grande (mais de 50%) e a média de permanência dos alunos nos cursos é de 6 anos e meio. Contando com outros problemas, a média de um diploma em universidade pública no Brasil pode chegar a R$ 450 mil.

Professores com dedicação exclusiva encontrariam trabalho fora da universidade?

Outro fator que encarece os cursos e precisa ser repensado, na opinião de Weintraub, é o custo dos professores que dão, em média, 8 aulas por semana e recebem de R$ 15 mil a R$ 20 mil, em regime de dedicação exclusiva, e de R$ 8 mil a R$ 12 mil, quando são apenas titulares. Além disso, frisou Weintraub, em geral são 12 alunos por professor, ou seja, a produtividade dos professores seria baixa pelo salário recebido.

“Provavelmente esses números pela primeira vez alguém tem a coragem de chegar e falar”, disse. E, olhando para a câmera, disse:

“Pagador de imposto, você que esta aí: paga imposto para um cara trabalhar, ir uma vez por semana, dar aula, ganha de R$ 15 a R$ 20 mil, não tem compromisso se ele reprova 80% dos alunos, 90% dos alunos ele pode reprovar; não tem muitas vezes uma linha didática clara, e o aluno desiste no meio do curso. Quantos [desistem]? 50%. Em alguns cursos, 90% dos alunos desistem. Então você pega eventualmente um curso de história, filosofia e geografia aonde 90% dos alunos desistem, o aluno formado, o diploma desse aluno é muito caro”, disse.

Weintraub deu a entender ainda que muitos professores com dedicação exclusiva não encontrariam outro trabalho. “Tem faculdade que o professor mesmo que queira não consegue fazer nada [fora da faculdade]”.

“Um professor de Medicina normalmente quer clinicar, não quer só dar aula; um bom professor em escola de negócios quer fazer consultoria”, comparou. “Os professores dessas faculdades [com baixa produtividade] quase todos têm dedicação exclusiva e recebem muito mais do que professores de faculdade onde o pessoal tenta trabalhar além de dar aula”.

“Como você melhora isso? Cobrando indicadores de desempenho. Por que você está perdendo 90% dos alunos? O que está acontecendo? Para quantos alunos você deu aula nesse semestre, para três, para cinco? Só de mostrar daria uma boa melhora nos números”, disse.

E continuou: “Assim que ar o Future-se e começar a ter adesão, a gente pari u vai ar alguns critérios [aos professores]. ‘Você pode ter número menor de aulas se publicar papers em revistas de melhor relevância. Não publica? Tem de dar mais aula”, disse Weintraub.

O ministro afirmou ainda que tirar as bolsas ociosas da Capes de cursos de pós-graduação ruins, com notas 3 e 4 nos últimos 10 anos, vai melhorar o aproveitamento desse recurso. Ele citou alguns nichos de excelência nas universidades, mas apontou que há muito “joio com o trigo”. “Aumentou-se muito a produção de papel e o impacto caiu. objetivamente o MEC hoje é uma grande universidade federal, uma grande folha de pagamento de professor de universidade federal”.

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Escolha de reitores

Sobre a escolha de reitores, Weintraub disse que, na opinião dele, criou-se uma falsa imagem que o dinheiro da universidade “brota como o maná do Céu”, fazendo referência ao texto bíblico. O orçamento das universidades sobe, segundo o ministro, cerca de 8% ao ano acima da inflação.

“Quem paga é o povo. Se o povo paga, nós pagamos, a universidade não é dos professores, não é dos técnicos e não é dos alunos. A universidade é do povo, de todos nós. E na discussão da escolha para reitor, falta a sociedade entrar. Estamos tentando meios que a sociedade possa participar da lista tríplice”, afirmou. O Ministério da Educação estuda tentar essa mudança no Congresso, com a apresentação de um projeto de lei, feito pela própria pasta ou em parceria com deputados e senadores.

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