Outro fator que ajuda, segundo ele, é a elevada taxa de poupança como proporção do PIB. Esse nível chegou ao nível histórico de 20,6% no primeiro trimestre. “Este colchão de liquidez é o que vem sustentando o consumo em meio ao e fiscal mais ”, aponta.
Quem também deve ter um bom desempenho nos próximos meses, apesar da tendência de alta nos preços, é o varejo de combustíveis e lubrificantes, que ainda acumula uma queda de 4,3% nos 12 meses encerrados em maio, de acordo com o IBGE. Em maio, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), as vendas das distribuidoras aos postos foram inferiores às do mesmo mês de 2019, antes da pandemia.
“Com cada vez menos medidas restritivas, a mobilidade das pessoas tende a aumentar”, afirma Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC).
O segmento que mais tem se sobressaído no comércio é o de móveis e eletrodomésticos. Nos 12 meses encerrados em maio, as vendas cresceram 18,9% em relação ao período anterior, segundo o IBGE. E esse desempenho tem se refletido na indústria. A produção de móveis cresceu 15,1% e a de eletrodomésticos, 29,9%.
O presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Jorge Nascimento, diz que um novo cenário doméstico se criou com a pandemia e o isolamento social. “As pessoas pararam de viajar e ir a restaurantes. Sobrou mais dinheiro para comprar itens para o lar, que se tornou um ambiente de estudos, trabalho e de convivência social.”
Dados da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) e da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que as vendas nacionais e importações de micro-ondas cresceram 11,5% no comparativo entre os primeiros quadrimestres de 2019 e de 2021; as de splits, 26,5%, e as de aparelhos de ar condicionado convencional, 10,2%.
Outro segmento que tem se destacado no comércio é o de artigos farmacêuticos, médicos, de perfumaria e de cosméticos, cujas vendas no comércio cresceram 13,9% nos 12 meses encerrados em maio, comparativamente ao período anterior, de acordo com dados do IBGE.
A Associação Brasileira de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec) atribuiu o desempenho ao reforço dos hábitos e cuidados pessoais durante a pandemia e, mais recentemente, à abertura do comércio na maior parte das cidades brasileiras. No primeiro quadrimestre, as vendas cresceram 5,7% em relação a igual período de 2020, aponta a entidade.
A expectativa é de que a tendência continue neste segundo semestre, apesar do desemprego elevado e do aumento na inflação. “Com o aumento de pessoas vacinadas, existe uma expectativa de que as atividades comerciais voltem cada vez mais à normalidade, o que pode contribuir para a manutenção e a alavancagem da performance do setor. O período pandêmico também serviu para consolidar, diante do consumidor, a essencialidade do setor de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos”, aponta a entidade.
Analistas avaliam que o ritmo do varejo deve continuar forte nos próximos meses. Nos cinco primeiros meses do ano, ele registra uma expansão de 6,8% nas vendas no comparativo com a mesma época do ano anterior. “Mantemos nossa expectativa de recuperação mais sólida da atividade econômica a partir do segundo semestre deste ano, pressupondo um estágio mais avançado de vacinação”, avalia o banco MUFG Brasil.
Apesar da trajetória altista, os analistas de varejo da XP Investimentos apontam que o ritmo do crescimento deve ser mais moderado no segundo semestre, já que o consumo das famílias tende a ser proporcionalmente mais forte em serviços no curto prazo.
Outros dois fatores que devem influenciar, segundo Bentes, da CNC, são a inflação elevada – nos 12 meses encerrados em junho, o IPCA fechou em alta de 8,35%, segundo o IBGE – e o aumento no juro, o que deve encarecer o crédito.
O economista aponta que o panorama está mais complexo e tende a desacelerar o ritmo de crescimento. Mas, mesmo assim, a expectativa do setor é de encerrar o ano com incremento real (já descontada a inflação) de 4,5% nas vendas, a maior alta desde 2012.
O cenário de alta nos preços preocupa Nascimento, da Eletros. “Boa parte da cadeia de insumos teve fortes altas nos preços, como o aço e as embalagens. O objetivo do setor é não entregar produtos caros. Para isso, as empresas estão renegociando com fornecedores e mudando processos.”
Também há preocupação com a cadeia de suprimento de semicondutores. Segundo o executivo, o problema ganhou mais força a partir de maio. “Disparou o sinal amarelo.”
VEJA TAMBÉM:
A crise detonada pela pandemia está forçando a uma mudança de rumos no varejo, que deve se tornar cada vez mais digital. O economista da CNC aponta que houve uma aceleração a toque de caixa.
“Se antes da pandemia era um canal alternativo, agora ou a ser fundamental. Mas há muito caminho a ser percorrido, já que as vendas exclusivamente online respondem por apenas 6% dos negócios”, estima Bentes.
Uma empresa que acelerou a transformação digital foi a gaúcha Bibi, que planeja inaugurar 32 lojas neste ano, sendo 20 no Brasil. A marca de calçados infantis registrou um crescimento de 151%, no ano ado, nas vendas digitais em canal próprio, via e-commerce, e 207% na rede online, explorando diferentes plataformas.
A empresa ampliou as possibilidades de vendas, usando tecnologias como o WhatsApp: o cliente fala com a vendedora pela rede, seleciona os produtos disponíveis por um catálogo on-line e recebe uma mala personalizada com os calçados em casa. Após a escolha dos produtos é gerado um link para pagamento e a mala é devolvida com as opções que não foram selecionadas.
Esta é a terceira reportagem da série "O Brasil que cresce", que apresenta alguns dos setores que mais avançam no país. Acompanhe a série neste link.