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Norueguês revisita obra de Ernesto Nazareth

Conhecido por seu trabalho no jazz, pianista Morten Gunnar Larsen mostra ginga ao revisitar obras de compositor brasileiro

Morten Larsen conheceu brasileiro nos EUA. | Werner Anderson/Divulgação
Morten Larsen conheceu brasileiro nos EUA. (Foto: Werner Anderson/Divulgação)

Lançado recentemente pelo selo norueguês Lawo Classics, o CD “Creole Connections”, que ganhou nota máxima na revista BBC Music, é uma verdadeira aula de história em torno do compositor brasileiro Ernesto Nazareth (1863-1934).

O notável pianista norueguês Morten Gunnar Larsen, conhecido por seu trabalho jazzístico, demonstra neste disco toda a paixão pelo compositor brasileiro, cuja obra conheceu em Nova Orleans, nos Estados Unidos, na década de 1980. Ele executa todas as peças com um gingado de fazer inveja a muitos pianistas brasileiros.

O termo “creole”, utilizado no título do CD, se refere originalmente a um filho de europeu ou africano nascido na América, e o que aprendemos neste álbum é que Ernesto Nazareth beneficiou-se deste fascinante cruzamento cultural.

Vamos às origens da linguagem musical de Nazareth: Louis Moreau Gottschalk (1829-1869), filho de um judeu americano e de uma “creole” haitiana, compositor e pianista americano que faleceu no Rio de Janeiro (e compôs a célebre “Fantasia sobre o Hino Nacional Brasileiro”), foi o primeiro a compor miniaturas pianísticas com ritmos latinos e africanos. O CD mostra quatro obras dele – uma delas composta em Porto Rico e três no périplo que fez pelas américas Central e do Sul. Nelas podemos perceber o surgimento de uma estética que cairá como uma luva em Ernesto Nazareth.

A obra de Gottschalk foi apresentada ao compositor brasileiro por outro “creole”, o professor de Nazareth, Lucien Lambert (1828-1896), pianista americano negro que viveu na então capital brasileira, e que foi grande amigo de Gottschalk .

Estas conexões são impressionantes e quase que desconhecidas por aqui. Do compositor brasileiro, o CD apresenta oito composições – desde a famosa “Odeon” até composições raramente executadas, como misterioso “Tango Labirinto” (com originais pausas em meio às frases), a valsa “Turbilhão de Beijos” e o maravilhoso “Tango Carioca”.

Mas o disco vai ainda mais longe. Mostra uma bela composição do compositor cubano Ignácio Cervantes (1847-1905), também amigo de Gottschalk , e duas do também cubano Ernesto Lecuona (1895-1963).

Outra obra interessantíssima foi composta pelo venezuelano Lionel Belasco (1881-1967), “Pequena Melodia Venezuelana”.

O CD apresenta também leituras entusiasmantes de duas obras primas do argentino Astor Piazzolla (1921-1992): “Retrato de Alfredo Gobbi” e “La Muerte del Angel”.

Não só o pianista Morten Gunnar Larsen é um instrumentista excepcional, mas demonstra ter um conhecimento histórico fantástico. O texto escrito por ele que vem no encarte, em norueguês e inglês, traz informações preciosas entre as quais o fato de Nazareth ter criado padrões rímicos complexos em obras pianísticas bem antes do nascimento do “ragtime”.

Ler o texto é mergulhar num mundo repleto de influências, que vão de Chopin aos ritmos africanos. Nazareth é figura chave na história da música brasileira.

Prova disso é que Heitor Villa-Lobos (1887-1959) dedicou a ele, em 1920, seu “Choros N.º1”.

Veja algumas apresentações de Morten Gunnar Larsen

A técnica impecável de Morten Gunnar Larsen. Ele executa Finger Breaker de Jelly Roll Morton (1885-1941), também um “creole”:

Morten Gunnar Larsen e o pianista carioca Luiz Simas executam em Oslo (Konserthus JazzKafe) Variações sobre “Tico tico no fubá” de Zequinha de Abreu:

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